21 de ago. de 2015

Cazuza tinha razão: o tempo não para!

Essa semana assisti ao filme “O retrato de Dorian Gray”, baseado no único romance de Oscar Wilde. O filme conta a história de Dorian, um garoto que é retratado por um artista que se encanta com a beleza do rapaz. Dorian, ingênuo, se deixa seduzir pela ideia de que a beleza e a satisfação física são as únicas coisas que valem a pena seguir na vida. E assim, para manter sua beleza, vende sua alma, garantindo que o retrato pintado envelheça em seu lugar. Logo depois, zapeando na tevê, sintonizo o canal Viva que, naquele momento, passava o programa da Ana Maria Braga e percebo o quanto ela tenta esconder, em vão, o peso da idade em seu corpo.
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Pronto, já fiquei remoendo tudo isso. Talvez pelo fato de que falta pouco para apagar as quarenta e uma velinhas; talvez por que livros e filmes me levam naturalmente a pensamentos assim ou, ainda, talvez porque eu goste de ficar ruminando, remoendo mesmo.  Só sei que esse foi o gatilho que deu inicio à reflexão do quanto damos importância a aparência, a beleza exterior já que, desde sempre, ouvimos falar da Fonte da Juventude, do Santo Graal, em prol da vaidade e do poder. Negamos o ciclo natural da vida: “nascer, crescer, reproduzir (item opcional), envelhecer e morrer”. Cazuza realmente tinha razão, “o tempo não para” e não paramos no tempo.
Essa tentativa humana de burlar o tempo, com o conceito de que só o jovem pode ser feliz é tão profunda quanto um pires. Quando jovens, podemos ter mais disposição física sim mas, juventude não é sinônimo de felicidade. Longe de mim, querer dizer que vaidade é algo negativo, quando em excesso, pode deixar de ser saudável e passa a ser um problema. E quando saber que ela se tornou um problema? Quando negamos as marcas do tempo em nosso corpo e nos tornamos uma caricatura de nós mesmos.
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O mercado de fórmulas milagrosas, das intervenções estéticas e cirúrgicas, dos complexos vitamínicos, está em alta e fatura bilhões anuais. Mas de que adianta arrumar a parte externa quando é a interna que precisa de ajuda? A não aceitação de seu corpo, da sua realidade, seja ela qual for, é sim, um grande problema. Claro, podemos sempre melhorar ou realçar o que temos de melhor; podemos nos beneficiar de cosméticos e de todas essas intervenções, mas estou falando de excessos. Como é o caso da história do filme, da Ana Maria, da Gretchen e de tantos outros casos tão extremos que vemos por aí. Porque, desculpem-me, eu não encaro isso que elas estão fazendo com o próprio corpo como algo natural. Sei que a definição de feio e bonito depende de cada um, mas temos que levar em conta os limites da beleza e da vaidade, a despeito de modismos e circunstâncias. Entendo que elas viraram reféns de algo que foi transformado com o tempo, viraram mulheres maduras e não se aceitaram como tal. Querer resgatar a aparência que ficou presa no passado é não viver o presente de forma saudável.
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Cada um é dono do seu nariz e faz o que bem entende com o próprio corpo, mas é visível o sofrimento das pessoas que não reconhecerem seu envelhecimento. A vida seria muito mais simples se aceitassemos a realidade.
Afinal, todos queremos viver por muitos e muitos anos mas, não querer envelhecer é, de certa forma, negar a própria existência.
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Helck Souza

* Texto publicado no blog www.quarentando.wordpress.com
Blog que Helck compartinha com suas amigas Juliana Bettini, Maria José klain e Monica de Souza Rodrigues

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