7 de fev. de 2012

Não sei quem é o Mocinho e quem é o Bandido

Curitiba, nesses últimos dias, está com temperaturas elevadíssimas.
Não somente com relação ao clima. No último domingo, logo após a tradicional apresentação do bloco carnavalesco Garibaldis e Sacis, houve um tumulto no Largo da Ordem, região central de Curitiba, terminando num confronto entre a polícia militar e foliões. Como se isso não bastasse, alguns policiais militares usaram as mídias sociais, mais precisamente o Facebook, na tentativa de justificar o ocorrido. Eis algumas pérolas:

"Batemos pouco... para quem não sabe festar... a polícia sabe educar"
"Quem enfrenta a polícia ... é bandido"
"Defendo meu estado com unhas e dentes, no meu caso, com borracha e BOMBAA!"
"Bandido tem que ser tratado como bandido... E aqui no Paraná bandido não se cria"

Afinal, prenderam os bandidos? Estavam infiltrados no meio dos foliões que foram agredidos pela polícia?

"Aqui no Paraná bandido não se cria" Como explicar essa frase, postada por um policial militar, quando, no mesmo domingo que ocorreu o fato, a revista Veja mostra a matéria sobre a pesquisa Mapa da Violência 2012, divulgada há dois meses pelo Instituto Sangari, que mostra que, em dez anos, Curitiba saltou da vigésima para a sexta posição no ranking das capitais com maiores índices de homicídio. São 55 homicídios para cada 100 000 habitantes. E no Paraná bandido não se cria????
Porque eles, os policiais, não comentaram sobre a pesquisa? O que, efetivamente, eles não fizeram para que isso acontecesse?



É gritante o despreparo da polícia, tanto civil quanto militar. Isso não somente devido ao acontecimento de domingo. Relato agora, dois fatos que aconteceram comigo:

O primeiro aconteceu há pouco mais de um ano, quando eu e minha família estávamos no início da viagem para Santa Catarina, no contorno Sul, o trânsito estava lento devido ao movimento e duas viaturas da polícia civil nos ultrapassaram. Um dos veículos estava com cinco pessoas. Meu marido até comentou que era muito provável que estavam levando algum detento num carro impróprio para isso. Dito e feito. Na lombada eletrônica do contorno, na Cidade Industrial, os carros praticamente pararam e saiu um homem algemado correndo em direção ao bairro. Os policiais, a paisana ,saem do carro e um deles saca a arma  e aponta em nossa direção, como se nós, no carro atrás deles, tivéssemos alguma coisa com o ocorrido. Imagina o desespero de uma mãe com seus três filhos e marido dentro do carro e um homem sem a farda da polícia com uma arma apontada na nossa direção?
Transportar um detento num carro impróprio. Uma atitude primária, que acarretou na fuga do bandido.

O outro fato aconteceu recentemente, no dia 21 de dezembro de 2011. Estava de carro na fila do estacionamento da  Praça Rui Barbosa, no centro de Curitiba. A fila terminava exatamente na faixa destinada aos pedestres e coloquei meu carro antes da faixa mesmo com o sinal fechado para o pedestre, nunca se sabe quanto tempo vai levar para a fila andar. Havia, na praça, uma viatura da polícia e três policiais conversando com umas pessoas que estavam num carro branco parado indevidamente na grama da praça, ao lado da canaleta do ônibus que vem da Rua Alferes Poli. Um dos policiais veio ao encontro do meu carro e disse "Senhora, pode seguir em frente, o sinal para pedestre está fechado". Respondi que sabia disso, mas como estava na fila para o estacionamento, eu poderia demorar com o carro em cima da faixa. Ele falou não tinha problema, eu poderia seguir. Fiz o que ele disse e ele saiu. Menos de vinte segundos depois, chega uma policial feminina, também militar, dizendo que eu não posso parar com o carro em cima da faixa de pedestre e que eu deveria sair e dar a volta na quadra para estacionar. Expliquei que ela tinha razão, que eu sabia disso, mas que o colega dela que está lá atrás (apontei para o policial) me liberou para ficar onde estava. Ela simplesmente colocou uma das mãos em cima da arma e a outra sacou o bloco de multas e disse gritando: "Saia imediatamente ou eu lhe notifico!" Tentei argumentar, mas não tinha conversa, qualquer coisa que eu tentasse dizer ela não iria ouvir. Concordei com a cabeça e observei que a fila para o estacionamento andou, fiz toda uma encenação para mostrar que estava retirando o meu carro dali, enquanto os carros da frente andavam alguns metros, o suficiente para que eu saísse de cima da faixa. Quando o carro da frente seguiu, eu também segui , olhei para a policial e falei amorosamente: "agora aqui eu posso ficar ou você tem alguma coisa contra?"
Não quero que estendam tapete vermelho, quero que me tratem como cidadã que sou, quero que não abusem do poder que eles têm por vestirem uma farda. Entendo que os salários deles são uma vergonha, para nos protegerem.
Para nos protegerem.
Essa é a função deles: nos protegerem. Não é mais que obrigação, não é gentileza, é para isso que existem.
Assim como as leis são feitas para serem cumpridas.
Assim como temos que pagar impostos.
Assim como os governantes que são eleitos para nos representarem.
E não estou fazendo piada.

Se o objetivo de tudo isso é amedrontar a população. Confesso que da minha parte eles alcançaram esse objetivo. Tenho medo. Tenho medo deles dizerem que eu os agredi verbalmente, afinal a palavra deles vale mais que a minha. Não confio. Não sei quem é mocinho e quem é bandido. E quem perde é sempre a população.


2 comentários:

  1. Essa é uma triste constatação! E dessa forma os bons entram no mesmo saco dos maus policiais... e vai confiar como??? A gente fica perdido e com medo de tudo... retrato do nosso país!

    O melhor é continuar rezando...

    Beijos... adorei o texto!

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  2. Olha, é feio mesmo, e eu prefiro ficar longe dessa gente, tanto de mocinho como de bandido.
    Aliás, hoje em dia ainda tem mocinhos?
    Coitado do meu filho, que vai herdar isso tudo...
    Muito bom mesmo, o texto.

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